Depois de passar por várias
experiências aprendendo as funções de algumas florzinhas, ainda faltava para a
florzinha número cinco, aprender a função da número dez.
E quando chegou o dia do
aprendizado, a florzinha número cinco foi mais cedo do que o horário combinado
e começou a observar tudo no local da número dez, percebeu que era muito
diferente dos demais lugares onde passou para fazer outros aprendizado, para
ela aquele lugar era o pior de todos, era um barracão enorme, de cor clara com
poucas janelas só em um dos lados. Na parede do lado oposto das janelas, havia
vários desenhos de retângulos em relevo, de tamanho médio e um de tamanho
grande no canto. E de frente para esta parede desenhada havia três mesas
pequenas, uma ao lado da outra e todas com uma cadeira.
Então a florzinha número cinco
pensou:
-É do jeito que eu imaginava
mesmo a função da número dez é a pior, pois trabalhar o dia todo sentada nesse
lugar fazendo praticamente nada e ainda de costas para as janelas, deve ser
muito ruim, acho que o jardineiro não vem aqui, se vem é só de passagem . Não
vejo nada de interessante aqui, mas como vou passar só um pequeno período de
aprendizado, não quero me preocupar com isso, e se uma dessas mesinhas for para
mim, vou falar no início quero colocar a minha mesa de frente para as janelas.
Como a florzinha número cinco
chegou muito cedo, ainda iria demorar a chegar o horário combinado com a número
dez.
Continuou a andar no barracão, e
não viu nada além das três mesas, então resolveu se aproximar das mesinhas, não
havia nada sobre elas, apenas uma com gaveta, que estava trancada com fechadura
digital com código de segurança, achou estranha uma mesa tão simples com
fechadura tão segura.
Então ficou ali aguardando, olhando
para a porta principal na esperança que a florzinha número dez chegasse antes
do horário já que ela estava adiantada, mas de repente o desenho do retângulo
maior no canto da parede se abriu, pois na verdade era uma porta de uma sala
que havia atrás da parede, e saiu de lá o jardineiro e se aproximou da
florzinha número cinco, ela ficou muito curiosa em saber o que havia naquela
sala, e antes que o jardineiro falasse qualquer coisa, ela perguntou:
-Posso entrar para conhecer a
sala que esta atrás da parede?
O jardineiro disse:
-Agora não, depois que você aprender
a função da número dez, você saberá o que consta na sala que esta atrás da
parede, no momento você não esta preparada.
Então a florzinha número cinco
quis iniciar rapidamente o aprendizado, mas ainda não estava no horário, então
falou para o jardineiro:
-Quero iniciar logo o
aprendizado.
Ele disse:
-Aguarda mais um pouco, até a
florzinha número dez chegar.
Ela disse:
-Tudo bem eu aguardo, porém já
quero dizer que caso eu for utilizar uma dessas mesas quero a minha com a
frente para as janelas.
O jardineiro falou:
-Uma dessas mesas será utilizada
por você no aprendizado, porém a mesa não será trocada de lugar, é necessário
que as mesas fiquem como estão e saiu pela porta principal.
A número cinco ficou aguardando e
a cada minuto que passava ela ficava mais ansiosa.
Então a número dez entrou pela
porta principal, sorridente e muito animada convidou a número cinco para se
aproximar das mesas. E mesmo depois de ter falado com o jardineiro sobre
colocar as mesas de frente para as janelas e a resposta dele ser não, a cinco
perguntou para a número dez, se poderia trocar as mesas de lugar ou somente a
dela poderia ficar de frente para a janela.
A florzinha número dez disse:
-Não, pois para o aprendizado é
necessário que as mesas fiquem no lugar que estão.
Antes que a número dez falasse
qual das mesas a número cinco iria utilizar, ela sentou na mesa que tinha
gaveta, e a número dez de maneira muito respeitosa falou:
-Você deve sentar na mesa da
outra ponta, pois a mesa do meio é a do jardineiro e essa com gaveta é a minha.
A florzinha número cinco ficou
surpresa, pois achava que o jardineiro pouco passava pelo local, jamais
imaginou que ele ocupasse uma mesa ali. Depois que a número cinco sentou no
lugar reservado para ela, a número dez começou a informar lhe como era a sua
função, e como a número cinco deveria proceder.
O aprendizado começou com a
florzinha número dez utilizando senhas para abrir a gaveta da sua mesa, e quando
a gaveta abriu para a surpresa da florzinha número cinco havia lá um controle
remoto moderno.
A florzinha número dez pegou o controle
e com um simples toque todos aqueles desenhos de retângulos da parede se
abriram como tela de tv e cada uma das telas mostrava imagens em tempo real de
vários lugares, eram jardins, bosques e parques, grandes ou pequenos onde
estivesse uma florzinha a tela mostrava.
Para a florzinha número cinco
quase todos lugares eram desconhecidos com exceção de um o seu próprio canteiro
que também era mostrado na tela.
Então a cinco perguntou:
-Que lugares são esses que
estamos acessando?
A dez respondeu:
-Alguns são canteiros de jardins
como o nosso e outros são canteiros naturais, que fico observando, pois quando
alguma espécie é tirada de forma desordenada logo entro em contacto com os
distribuidores de pólen que fazem a reposição.
A número cinco ficou imaginando, tanta
segurança para ficar observando canteiros, achou o serviço fácil.
Então perguntou:
-É esse o seu trabalho? Observar por telas os
canteiros ?
A número dez respondeu:
-Esta é uma parte, durante o
aprendizado você verá a rotina toda do meu trabalho.
Enquanto conversavam, a número
cinco viu o jardineiro na telinha regando um dos canteiros e falou:
-Olha o nosso jardineiro esta
regando aquele canteiro.
A número dez disse:
-Sim, é ele.
Passou alguns instantes o
jardineiro apareceu na tela adubando outro canteiro, a número cinco falou de
novo:
-Olha o nosso jardineiro, novamente
na tela agora adubando outro canteiro.
Ficou revoltada e continuou
falando:
-É por isso que ele se ausenta
tanto, porque fica cuidando de jardins enormes dos outros.
E foi assim o dia todo, a número
dez passando informações de florzinhas feridas para o jardineiro, e ele as
socorrendo e a número cinco reclamando.
A número dez não falou nada, de repente
algumas florzinhas começaram a fazer seus trabalhos em diversos canteiros tudo
dentro do normal, quando algumas florzinhas caíam e a número dez percebia
através da tela, informava ao jardineiro que com muita rapidez as
levantavam, outras estavam secando, o jardineiro lhes dava água, e as que não
se recuperavam ali, o jardineiro as pegava no colo e as levavam para
recuperação em um lugar especializado para isso.
E a número cinco falou novamente:
-É por isso que ele fica tanto
tempo ausente, pois fica cuidando de canteiros enormes dos outros e o nosso que
é pequeno fica sem cuidados.
A número dez com muita calma
disse:
-Esses canteiros enormes que você
esta vendo são do jardineiro também, e te digo mais, aqueles canteiros foram
plantados no mesmo dia que o nosso, porém neles todas as florzinhas são unidas
e por isso cresceram e ficaram bonitas, enquanto o nosso canteiro por faltar o
elo do meio, pouco desenvolvemos.
A número cinco falou:
-Se o elo que você diz sou eu, então
como sempre falei a minha função é a mais complicada, pois o pouco que sai já
não conseguimos nos desenvolver.
A número dez argumentou:
-Todas as funções das florzinhas
são importantes para o bom crescimento do canteiro, mas enquanto você ficou
aprendendo as funções das demais florzinhas o seu lugar ficou vazio.
A número cinco falou:
-É, mas quando as florzinhas dos
outros canteiros caem ou estão cansadas, o jardineiro as leva no colo para
passear em um lugar, certamente arejado e seguro, enquanto eu não posso se quer
sair do meu local, só sai porque argumentei muito, enquanto o jardineiro
passeia com outras florzinhas.
A número dez cansada das
reclamações da número cinco falou:
-Vamos conhecer a sala secreta
atrás da parede.
A número cinco ficou contente
pela possibilidade em saber o que havia atrás da parede, se levantou da cadeira
bem rápido e chegou ao desenho de retângulo grande em relevo que era uma porta.
A número dez digitou uma senha e
aquela porta abriu, a cinco ficou muito surpresa, pois na sala estava o
jardineiro com várias florzinhas, algumas murchando, outras faltando pétalas, outras
com outras partes danificadas. Eram muitos os problemas das florzinhas, algumas
estavam se recuperando bem outras não, todas chorando por não poder mais ajudar
os seus canteiros, o jardineiro as consolavam e restaurava cada uma, e tudo
quanto ele fazia elas agradeciam.
A cinco vendo tudo aquilo ficou
muito assustada, começou a andar entre as florzinhas debilitadas e a número dez
sempre do seu lado. Se aproximou da número cinco uma florzinha bem antiga que
parecia já ter trabalhado muito e perguntou para a número cinco:
-Qual o seu problema para estar
aqui, você parece tão saudável?
A cinco disse:
-Só estou aqui para aprender a
função da número dez e conhecer esta sala.
A florzinha antiga disse:
-Então você faz parte desse
canteiro aqui do lado. Que bom aprender mais uma função assim você pode ajudar
melhor o seu canteiro, bonita esta sua atitude, quando vi você chegando com a
número dez, pensei que estava vindo para ser voluntária no atendimento aos
feridos.
A número cinco constrangida falou:
-Não posso ser voluntária tenho
uma função no canteiro ainda.
A florzinha antiga disse:
-Pois quando eu estava em fase
produtiva sempre fiz o possível para fazer a produção da minha função e ainda
sobrava tempo para ajudar aos feridos dessa sala como voluntária.
A número cinco ficou maravilhada
em ver aquela florzinha tão antiga ajudando as demais, quis saber mais sobre
ela, e perguntou:
-E o seu canteiro qual é?
Ela respondeu:
-O meu canteiro já foi replantado
novamente, pois as minhas companheiras de canteiro todas já morreram e o
jardineiro replantou o canteiro, ele até quis que eu ficasse lá no canteiro
novo, e disse que eu poderia ficar na mesma função que eu exercia, que ele não
plantaria uma nova semente no meu lugar, porém mesmo eu gostando muita da minha função, achei
melhor ficar aqui como voluntária e deixar outra florzinha desfrutar do
privilégio de participar de um grupo de canteiro e exercer aquela função tão
maravilhosa.
A número cinco pensou:
-Certamente ela exercia a função
de número um.
E curiosa continuou perguntando
sobre a vida da florzinha antiga.
-De qual canteiro a senhora era?
A florzinha antiga com um grande
sorriso estampado no rosto respondeu:
-Esse mesmo aqui do lado, que
hoje você participa.
A cinco fez mais uma pergunta:
-Qual a era a sua função?
A florzinha antiga respondeu:
-A melhor função do canteiro, a
número cinco.
A florzinha número cinco muito
surpresa disse:
-A função número cinco não é a
melhor.
A antiga disse:
-É sim, pois eu ficava bem no
meio que é um lugar maravilhoso, conseguia ver todas minhas companheiras tanto
de um lado como do outro, quando uma desanimava, do meu local eu conseguia
falar algo para animá-la, quando estavam cansadas conseguia ajudá-las, pois por
estar no meio estava próximo de todas e nos dias de vento e chuva forte estava
ali na minha função bem forte fazendo o elo de segurança, e quando alguma por
algum motivo estava descontente com sua função e criticando, eu sempre consegui
a mostrar que todas as funções eram importantes e era fácil, pois faz parte da
função cinco, unir por ficar bem no centro, e é bem útil.
E perguntou para a florzinha
cinco:
- Jovem e qual é a sua função no
canteiro?
A cinco jovem respondeu:
-A função cinco.
A florzinha antiga ficou tão
feliz e disse:
-Agora entendi porque você esta
aprendendo outras funções, para melhor servir ao canteiro, e eu não tive essa
ideia quando estava na fase produtiva, ainda bem que eu não fiquei no canteiro
novo, você esta exercendo melhor a função do que eu no passado.
A cinco jovem olhou para a número
dez e para o jardineiro que estavam próximo e com muita vergonha pediu para
sair daquela sala, e quando saíram estava lá na frente da porta todas as
florzinhas do canteiro, pois o jardineiro as convocou para uma reunião por ser
o último dia de aprendizado da número cinco jovem, e todas sem exceção
colocaram as funções a disposição da número cinco jovem caso ela quisesse
trocar de função.
O jardineiro falou:
-Quando convoquei esta reunião
todas falaram que se você escolher os cargos delas, estavam dispostas a trocar
com você pela função cinco.
Ela muito emocionada agradeceu a
todas e ao jardineiro, reconheceu que sua atitude prejudicou o crescimento do
canteiro, pediu para a número dez abrir mais uma vez a porta da sala secreta, a
dez abriu, então pediu para a número cinco antiga sair e a apresentou para as que não a conhecia no canteiro, e
falou para a cinco antiga tudo o que havia
feito de errado e falou para as outras como a cinco antiga agia no passado e
falou para o jardineiro:
-Se eu voltasse para o canteiro
seria na função cinco, porém se o senhor aceitar quero trocar com a cinco
antiga ela fica no canteiro e eu fico de voluntária ajudando as que estão
feridas.
Antes que alguém falasse alguma
coisa a número cinco antiga falou para cinco jovem:
-Eu não aceito essa troca, pois o
meu tempo de canteiro já passou e agora é sua vez de ocupar a função cinco
atual e o que você tem que fazer no canteiro outra não faz, agora que você sabe
como agir na função cinco, será melhor que eu, pois além de aprender outras
funções aprendeu grandes lições.
E todos concordaram.
Então a número cinco antiga
voltou para atender os feridos, e a cinco atual ficou no canteiro.
Antes de encerrar a reunião, todos
se abraçaram e a cinco atual falou:
-Hoje eu percebo que a numeração
é apenas para organizar funções, e reconheço que por estar preocupada na rotina
das outras funções não fiz o que deveria fazer na minha função, e digo que
agora vou me esforçar muito, não só por mim, mas por todo o canteiro, pois o
tempo passa muito rápido e somos nós que escolhemos, se o elegemos como nosso
amigo ou como nosso inimigo.